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GALPÃO

OFICINA

Esta antiga oficina de serrar madeira e de carpintaria com máquinas importadas no início do século XX surpreende por seu grande valor histórico. Afinal, estas máquinas movidas a eletricidade eram uma inovação à época e permitiram que a Companhia Força e Luz Cataguases-Leopoldina expandisse seus negócios e gerasse novas oportunidades de trabalho na região.

Madeira vem de matéria, e há milhares de anos é o material mais utilizado pelo homem como combustível e para os mais diversos fins. É fascinante observar a evolução das técnicas e processos envolvidos no antigo ofício de transformar a madeira em energia e em tantos e tão diferentes objetos. 

 

Espaço fabril e de ofícios tradicionais, o Galpão Oficina permanece com sua identidade e acervo original preservados, mas com uma nova função: processar memórias e trazer à tona o mundo do trabalho e a importância dos trabalhadores no cotidiano da história da Usina Maurício.

UM LUGAR PARA OS OFICIOS

UM LUGAR PARA OS OFÍCIOS

          E A MEMÓRIA DO TRABALHO

A energia elétrica gerada pela Usina Maurício impulsionou a industrialização nos municípios atendidos pela Companhia Força e Luz Cataguases-Leopoldina desde 1908 e permitiu à própria empresa instalar neste local um engenho de serrar madeira movido a eletricidade em 1918.

Com máquinas e motores elétricos importados, esta oficina é um marco para sua época. Nos primeiros tempos atendia a terceiros, gerando importante receita para a companhia. Com a construção das novas usinas e a expansão das redes de transmissão, passou a trabalhar exclusivamente para a própria empresa.

UMA HISTÓRIA DENTRODA HISTÓRIA

Os engenhos de serrar madeira movidos por força hidráulica são estruturas muito antigas.
Uma das primeiras serras hidráulicas foi inventada por Leonardo da Vinci (1452-1519).

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A invenção mais decisiva, no entanto, foi a serra de fita, criada em 1808 pelo inglês William Newberry. Essa inovação extraordinária só passou a ser largamente utilizada com o avanço da industrialização no século XIX e a fabricação de lâminas rígidas e fortes o suficiente para serrar grandes toras de madeira.

O século XIX é um marco importante pelos avanços tecnológicos de modo geral e, sobretudo, nos meios de transporte que possibilitaram movimentar grandes toras de madeira e levá-las para as serrarias, que passaram por uma grande evolução com o advento da eletricidade. 

Com trilhos que permitem movimentar as toras e um grande fosso para abrigar e proteger as partes inferiores do maquinário, a Oficina da Usina Maurício possui dois engenhos de serra movidos a eletricidade: a serra de fita e uma serra vertical de múltiplas lâminas.

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O TRABALHO NO COTIDIANO DA OFICINA

A etimologia da palavra oficina é relevante para se entender, para além das máquinas, o que realmente acontecia aqui. Ela provém do latim opificium, derivada de opificis, artesão, palavra formada mediante a justaposição de opus, obra, e facere, fazer. 

As máquinas da oficina, alimentadas por motores elétricos, permitiam serrar a madeira em diferentes formatos e espessuras; fazer furos de diferentes tamanhos, como os necessários na fabricação das cruzetas dos postes da rede elétrica; fazer molduras e afiar as lâminas, tarefa essencial em todo o processo. 

A serviço dos trabalhadores, sem os quais nada fariam, as máquinas preservadas neste espaço são parte de um todo que recebeu, desde o início, o nome de oficina porque acima delas, e por mais avançadas que fossem para época, estava a atividade laboral e artesanal. As capacidades humanas eram imprescindíveis no processamento da madeira e na fabricação de peças diversas, inclusive as usadas na construção civil, quando foram instaladas as novas usinas da Companhia Força e Luz Cataguazes-Leopoldina.

Trabalhava na oficina uma média de sete pessoas, com atribuições diferentes, pois nem todos tinham conhecimento técnico para lidar com as máquinas. Havia a função de rolador de toras, menos especializada, a de operador de máquinas e serras, carpinteiros e marceneiros. Um encarregado dirigia e supervisionava o trabalho de acordo com as demandas da companhia. 

Um sino, localizado no interior da casa de força da usina, anunciava a hora do almoço e do café, bem como o início e o fim de mais um dia de trabalho.

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MEM

Instalação Sonora

                    Memória do Trabalho

No Galpão Oficina do Museu-Parque Usina Maurício, engrenagens silenciosas repousam como testemunhas do tempo. Neste cenário, uma instalação sonora convida o visitante a uma experiência sensorial que transcende o visível. Entre serras, plainas e tornos que um dia transformaram madeira em progresso, quatro alto-falantes recriam poeticamente a memória viva de um ambiente de trabalho fundamental à existência da usina, marco do desenvolvimento da Zona da Mata mineira.

 

A localização da oficina junto à Casa de Força não é apenas funcional, mas profundamente simbólica: aqui a força motriz que movimentava as serras encontra-se com a força das mãos que as operavam. Memória do Trabalho propõe uma arqueologia sonora desse labor cotidiano, uma poética da presença daqueles cuja história se inscreveu no ranger das madeiras, no ritmo das lâminas, no pulsar das máquinas. Trabalhadores cujo conhecimento, habilidade e dedicação construíram materialmente o progresso que hoje celebramos. 

 

A composição sonora transita entre o documental e o onírico. Paisagens sonoras reais – reconstruídas por meio de pesquisa – se entrelaçam com intervenções musicais que utilizam os próprios sons do ambiente de trabalho como matéria-prima. O ruído de uma serra elétrica torna-se ritmo; o silvo da madeira sendo aplainada transforma-se em melodia; o canto dos pássaros, o murmúrio do rio e os sons da mata circundante – elementos que testemunharam o trabalho humano décadas atrás e persistem até hoje – tornam-se parte de uma composição que dissolve fronteiras entre passado e presente, entre trabalho e natureza.

 

Os quatro canais de áudio criam uma espacialização que envolve o visitante, convidando-o a refletir sobre camadas de memória que coexistem neste ambiente. Não se trata de mera reprodução, mas de uma recriação imersiva que presta um tributo ao trabalho manual, revelando sua musicalidade intrínseca e sua dimensão humana essencial, enquanto reconhece que este labor sempre esteve inserido em uma paisagem natural mais ampla.

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